sábado, 7 de outubro de 2006

7 de Outubro de 1910

Nesse dia, uma sexta-feira, é proclamada, nos Paços do Concelho de Ponte de Lima, a República.

Impaciente, querendo assumir rapidamente a gestão, a Comissão Municipal Republicana, convida a população a comparecer nos Paços do Concelho, pelas duas horas da tarde.

Faz redigir, pela mão de um dos seus membros presentes, Francisco Pereira Campos, uma acta, que, segundo o jornal O Commercio do Lima, n.º 211 de 8 de Outubro de 1910, tinha o seguinte teor:

"Aos sete dias do mês de Outubro, e segundo da proclamação da República Portuguesa compareceram nos Paços do Concelho a Comissão Municipal Republicana representada pelos seus membros, os cidadãos António José Barbosa Perre, Francisco Pereira Campos, Bento António Gonçalves Pereira e Albino de Matos e grande massa de cidadãos. Como não estivesse presente nenhum dos membros da vereação, resolveu-se hastear a bandeira vermelha e verde, com o dístico Pátria e Liberdade e marcar para o dia seguinte a entrega e simbolizar este acto a proclamação do novo regime.

Ponte do Lima e Paços do Concelho Municipal, aos sete dias do mês de Outubro de 1910."

Falaram, de seguida, Artur Cunha, António José Barbosa Perre, decano dos republicanos locais e secretário da respectiva comissão municipal (o seu presidente, Manuel José d'Oliveira, não se encontrava em Ponte de Lima, nessa altura), os sargentos da armada, José Mendes Pinto e Joaquim José Vicente que, na companhia do seu colega Guilherme Moreira, representavam a guarnição da canhoneira Limpopo, ao serviço em Viana do Castelo, e que afirmaram que o seu ideal político, embora dentro da República, ia um pouco mais além, "um ideal muito mais alto de justiça e liberdade", e Álvaro d'Almeida, em saudação ao novo regime.

Foi assinada, logo após, a Acta da Proclamação, primeiro pelos membros da Comissão Republicana Municipal, depois pelo Juiz da Comarca e por grande número das pessoas presentes.

Ao som do "novo hino nacional", A Portuguesa, executado pela "banda dos nossos artistas", foi hasteada a bandeira republicana, cerimónia acompanhada por uma salva de tiros.

Seguiu-se um cortejo, também ao som de A Portuguesa, e com lançamento de foguetes e entre vivas à República e à Pátria, que percorreu as ruas Boaventura José Vieira, D. Pedro, António Feijó, João Rodrigues de Morais, largo do Dr. Magalhães, rua do Souto, largo da Matriz, rua da Abadia, largo de Camões, rua do Rosário, largo de S. João, rua Vasco da Gama e bairro de Além da Ponte.

À noite, no Hotel do Passeio, realizou-se um banquete, em que discursaram Rodrigo d'Abreu, Cândido da Cruz, Francisco Pereira Campos, Guilherme Mata e Teófilo Carneiro, "um novo cheio de talento e com ideias modernas", entre vivas à República Portuguesa, à liberdade, e entoações de A Portuguesa, e sendo lembrado, amiúde, "o 2.º Tenente da Armada e nosso conterrâneo Tito de Morais", pelo importante papel desempenhado, ao comando do cruzador S. Rafael, com significativa participação para o bom êxito da revolução, como o bombardeamento do Rossio, a 4 de Outubro, com dois tiros de artilharia, que puseram em fuga as tropas monárquicas ali estacionadas e impediram, em conjunto com os outros navios da armada revoltosos, o prosseguimento dos ataques à Rotunda.
Ao banquete assistiram:
Álvaro d'Almeida, Albino de Matos, Amaro d'Oliveira, Américo Maciel Pais Carneiro, Anselmo Armando Reis de Sequeiros, António José Barbosa Perre, António José d'Oliveira, António Antunes Ferraz, António Pereira d'Araújo, Artur da Cunha Araújo, Avelino Pereira Guimarães, Bento António Gonçalves Pereira, Claudino José de Lima, Francisco Pereira Campos, Francisco Augusto Dantas, Francisco Vasques Martins, Francisco José Dantas, Francisco d'Abreu de Lima, Francisco de Melo da Gama e Vasconcelos, Guilherme da Mata, Henrique de Passos Sousa, João Manuel da Silva, João Augusto Dantas Júnior, João Manuel da Silva Braga, João Rodrigues Guerra, José Cândido Pinto da Cruz e Costa, José Martins d'Albuquerque, José Mendes da Costa Júnior, José Alves de Sousa Júnior, José de Sousa Vieira, José Joaquim Gonçalves Pereira, José Pereira Marinho, José Bento de Lima Fernandes, Júlio José de Brito, Luís José Dantas, Luís Moreira Magalhães, Luís Antunes Ferraz, Manuel de Sousa Amorim, Manuel Teixeira Júnior, Pelágio Lemos e Teófilo Maciel Pais Carneiro.
Às três horas da tarde, do dia 8, partia para Viana do Castelo a Comissão Republicana Municipal, em virtude de não ter recebido, até aquela hora, "comunicações oficiais que a autorizassem a tomar posse da Câmara Municipal".

2 comentários:

Luís Carneiro Nunes disse...

Caro Jose Sousa Vieira,

Desculpe a intromissao.
Mas nao podia deixar de o felicitar pelo interessante blog que criou.
Sou um admirador da primeira Republica e de mts dos personagens de Ponte de Lima.
Nele fez referencia ao meu bisavo, de seu nome Teofilo Maciel Pais Carneiro.
Continue com o bom trabalho ao "postar" com qualidade.

Os meus cumprimentos,
Luís Nunes

Unknown disse...

Caro Luís Nunes

Agradeço o seu comentário e estimo, com sinceridade, o seu interesse pela terra natal do ilustre Teófilo Carneiro, seu bisavô, e que continua, para muitos ponte-limenses, uma referência moral e intelectual.

Cumprimentos,
José Sousa Vieira